AS VISÕES DE HUXLEY
Aldous via coisas que os outros não viam. Ele estava olhando o outro lado de tudo que surgia naquele momento. As tecnologias de comunicação, a queda de braço entre comunistas e democratas, o crescimento desordenado da população e a ordenação das organizações; ele as via por dentro. Mesmo antes da segunda guerra, em 1932, lançou Admirável Mundo Novo um livro distópico que profetizava a humanidade num futuro sem sentido, sufocada por opções infinitas. Imaginou pessoas oprimidas não pela restrição, como em 1984, mas pela inércia causada pela fácil satisfação.
Numa entrevista à Mike Wallace, em 1958, ele fala do potencial da TV para ser usada para o mal, criando uma distração ampla e coletiva. A proliferação do uso de drogas, combinada com o que ele chama de “novas técnicas de propaganda”, seria fundamental para criar a “felicidade onde ela não existe” no seu futuro hipotético. Sua crítica a propaganda comercial comparada a propaganda de regimes totalitários, contemporâneos à época da entrevista, alerta ao poder da publicidade, sobretudo aquela direcionada ao público infantil. Apesar das particularidades de cada uma, elas tem o mesmo propósito de provocar a adesão involuntária do individuo a uma causa pelo resto da sua vida. No entanto, a democracia precisaria justamente do contrário disso. Somente cidadãos livres e capazes de tomar decisões conscientes poderiam fazê-la funcionar.
Wallace: “… e nós seriamos persuadidos a votar em um candidato no qual não saberíamos que fomos persuadidos a votar nele?”
Huxley: “Exatamente. É uma situação muito alarmante ser persuadido abaixo do nível da escolha e da razão”
Sobre os avanços da tecnologia na propaganda política nas eleições de 1964.
Sua visão pessimista trazia seu temor em relação ao cenário conturbado e sem garantias que seu olhos enxergavam no horizonte. Chegou bem perto nas suas predições, especialmente as relacionadas à atuação das comunicações, o que garante a ironia na leitura dos seus ensaios quando a própria história revela suas mensagens hoje. Mesmo tendo alcançado o maior nível de informação disponível nos últimos 50 anos, a maior parte de nós ainda não sabe como usar isso em favor prórprio e continua sendo domada pelo consumo massivo de entretenimento.
“O preço da liberdade é a eterna vigilância”
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